terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Desencontro


Sofro pela capacidade excepcional que tenho de me achar e paralelamente me perder no que acredito.
Angustia-me idealizar o que quero e querer o que idealizo.
O estado imutável de dúvidas no qual vivo enclausurado se configura num fatalismo indubitável, que me dá vida, mas que contraditoriamente me mata um pouco todos os dias.
Desespera-me o fato de que o remédio que me cura, por vezes se transfigura em pavoroso veneno que me tira a vitalidade e me lança ao abismo inóspito e de fundura sem fim.
Afinal, por que quero o que quero e não o que preciso?

Saulo Oliveira

sábado, 4 de dezembro de 2010

Deixe ser...


Deixe ser...
Se a vida é um feixe de luz tão ínfimo
Se a fresta por onde transpassa esta luz não pode ser medida.
Deixe ser...
E verá o amanhã como possibilidade
E terá outra chance de amar
Deixe ser...
Quando avistar por sobre o caminho onde anda,
Uma forragem de espinhos pontiagudos e brasas cintilantes
Tire os sapatos e descalço caminhe,
Caminhe com força, pra sentir melhor.
Deixe ser...
Porque a beleza da vida envelhece
E o tempo não espera quem atrasa.

Saulo Oliveira

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Viva!


Viva a confraternização dos dois EUs!
Confraternização?
Viva a guerra entre eu e eu!
Pois bem; senão na alegria, na dor.
Num emaranhado multifacetado de sensações no pensamento
Num grito pungente de gozo e desespero
Na circulação nervosa e pulsação sôfrega das artérias cerebrais
É a negação como progenitora da verdade e do mito
Admito que só posso ser sendo eu hoje e outro amanhã.

Saulo Oliveira

domingo, 3 de outubro de 2010

Epifanando

Ando só pois só eu sei...
Vejo sob um céu negro luzes tímidas e omissas, de maldades silenciosas.
Ando entre transeuntes ignorantes de sua própria grandeza; simplesmente agradecidos pela concessão torpe de chorar no mundo.
Grito espremido em muros de concreto que construí durante toda a minha vida, e ouço ecos medonhos de alguém que reluta por sair do conveniente e do óbvio.
Sinto o ar pudico, que toca minha pela crespa, na tentativa inútil de quebrantar a rusticidade.
Mas enfim, tudo é tão fugaz! Passará tão logo eu pise o chão de realidades.
Saulo Oliveira

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

S.E



Sob os pés calejados de um velho senhor, sentado numa calçada suja empoeirada, visualizo uma flor que se rompe abrupta e formosa.
Toda ela mesma molhada de pura sensualidade; de face ardente e libidinosa.
Toda ela mesma encharcada de convite à realidade.
Toda ela mesma mediadora do concreto e do abstrato.
Vai assim nascendo e se espalhando sem pedir licença.
Ah Natureza indomável! Subversiva fulô que já não mais irradia os jardins alheios.
Quem dera tivéssemos força pra lhe seguir a ação.
Saulo oliveira


domingo, 26 de setembro de 2010

À obra!

Vivo um dia de cada vez!
Às vezes vivo outras tantas vezes observo passivamente os dias passarem.
A minha mente está cansada do mais do mesmo, cansada de hospedar o lugar comum.
O que posso fazer?  Reclamar para quem? Pedir a quem?
Não posso exigir de alguém o que falta em mim.
Tampouco posso dar a alguém o que lhe falta.
Porém; podemos nos doar, nos compartilhar, nos completar.
É só querer!
As pessoas e os espaços estão aí; sedentos por serem alterados, adulterados, modificados.
Vivo na esperança de que um dia o “bom dia” que damos tão despercebidamente a outra pessoa, se estenda ao bom dia de fato.
Que tenhamos prazer de verdade em estar com outra pessoa, quando esta nos beija a face, nos dizendo o quanto foi bom, termos nos encontrado.
O bom da vida é vivê-la! Não sozinho é claro.
As pessoas e os espaços estão ai.
Saulo Oliveira

sábado, 25 de setembro de 2010

O Violão e o Homem

Foi d'um pedaço tosco de madeira que te gerei!


O Homem perguntou ao violão; quantas cordas seriam necessárias para realizar uma canção perfeita e finalizada?
O violão então respondeu: quantas seus dedos alcançarem seu tolo!

domingo, 19 de setembro de 2010

SERÁ AMOR?

Concebo o amor não como uma coisa melosa ou bordada pelos contornos melancólicos de uma dependência patológica a que muitas vezes confundimos com “relacionamento a dois”.
Configuro o amor; não como o sacrifício do eu em favor do outro ou do outro em favor do eu. Ao contrário, enxergo a possibilidade de amor; de amar e de se amar, onde há perspectivas de construção recíproca, nas diferenças, no novo, no desconhecido, enfim; no que não é você.
Não quero uma vida inteira de amores, quero algumas horas de amor.
Não quero morrer de amores, quero viver na possibilidade de amor.
Não me vejo tampouco no amor; enclausurado em muros cinzas de puro convencionalismo, sem identidade, sem vontades e sem mim mesmo, como acontece na mentira para a qual inventaram o nome enfadonho de casamento.
Percebo e encontro-me no amor, em campos de espaços incomensuráveis, de liberdade infinita, de vontades saciadas, de somas do eu mais do outro que resultarão em nós dois. Sinto-me no amor, sobretudo na união e consequentemente comunhão, à qual deram genialmente o nome de cumplicidade.
Saulo Oliveira

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pra recomeçar

AO O AMOR DA MINHA VIDA!

Recomeçar; eis ai uma palavra de singular beleza,
E de igual modo, muito complicada; mas muito mesmo,
Quando pensada no campo prático das ações.
Por que será esse nosso apego desregrado às coisas que se foram?
Às que se passaram, e sei lá; aos fenômenos que insistentemente teimam por não se repetir?
Pra recomeçar, diria eu, no auge de minha ignorância,
Serem necessários apenas um breve olhar de adeus ao passado,
E o balbucio de meia dúzia de dizeres desapegados.
Mas infelizmente não é tão simples assim, e tampouco gostaria que o fosse,
Sabendo da importância e necessidade de sentir organicamente o que se foi; para poder especular o que virá.
É como levantarmos corajosamente após um tombo, e tentarmos de novo.
É ter consciência de que o mundo não pára, e que por obrigação, devemos seguir o seu exemplo.
O que se passou não deve ser deletado, ao contrário deve ser arquivado cuidadosamente, no fundo de nossa memória,
Para que jamais esqueçamos, que a arte de viver só é possível quando há motivação,
Que por trás de uma conseqüência existe uma causa,
E por fim; só há presente como extensão do passado.

Saulo Oliveira

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Soneto do Querer Sem Querer

Entidade feminina; fonte de inspiração ou desilusão?
Bênçãos ou decepções?
Musa de fado triste e enfadonho
Semblante pródigo de luxúria e malícia


Dona do querer dos outros,
Assassina dos meus dias de paz
A minha vontade, à ti coube a escolha,
E meu destino, tu sabes de cor.

lutar é inútil e impossível o será mais tarde,
Dada a minha condição de paralizado, extasiado, cativo;
Como consequência de teu veneno doce de serpente mansa.
E prostrado a ti estou, agora e para sempre; ingrata de meu amor e sorte.

Que tua sede sem controle a mate sufocada com o sangue extraído de corações inocentes,
E que perene sejam contra ti, as chamas que outrora usaste amiúde para do mundo fazer cinzas.


Saulo Oliveira