segunda-feira, 22 de agosto de 2011

*Carta para um amigo



Sei que parece meio em desuso e anacrônico esse lance de escrever cartas, mas sou um tanto quanto saudosista e quixotesco. (Ahhh lia a obra de Cervantes: Dom Quixote De La Mancha; o Cavaleiro da Triste Figura, e agora faz sentido), enfim.
Meu amigo, escrevo pra você, com a intenção e desejo de compartilhar um pouco do que me acontece pelos lados de cá, já que o considero como a um irmão; companheiro de conversa e botequim por noite a fio; apreciador da boa música e leitura, e, sobretudo um pensador inveterado e incansável.
Como Caetano diz: quem vem de outro sonho feliz de cidade, aprende depressa a chamar-te de realidade.
São Paulo é de fato um grande calabouço sufocante e massificador das multidões. As pessoas por aqui, melhor dizendo, a grande maioria delas não pensa; ou pelo menos acha, ilusoriamente não dispor de tempo para tal. Por aqui só se trabalha; só se maquiniza. Por aqui se tem a representação nua e crua desse sistema canalha e sem escrúpulos sob o qual vivemos sedados e inertes.
Porém como amigo, devo-lhe informar do outro lado. São Paulo paradoxalmente é também o grande palco das artes; é a cidade onde o nosso grande e inesquecível Paulo freire viveu seus últimos anos de vida, atuando na política e educação; foi sob a garoa desta mesma cidade que o inconteste Adoniram Barbosa evocou seus subversivos versos, denunciando prematuramente uma sociedade assaz industrializada e massacrante, que estava por emergir. E por ai vai...
Cara, Tenho tanta saudade do meu sertão, que chega a doer. Mas sei que devo continuar em busca da incógnita que vem dentro de mim há muito, e por isto mesmo aceitar as conseqüências resignadamente, porque a vida é construída mesmo de escolhas, e eu já fiz as minhas.
A rotina é foda! Levanto às cinco da manhã e retorno pra casa à meia noite; durmo em média quatro horas por dia. É uma vida difícil, mas satisfatória, no sentido de que todo dia há uma nova possibilidade de aprender e crescer como gente. A minha maior motivação é o curso de Comunicação Social; um verdadeiro laboratório de experiências e interação humanista.
Quero finalizar dizendo que, a amizade; a velha e boa amizade, aquela que nos instiga; que nos provoca a crescer; que nos tira da zona de conforto e conformismo, enfim, aquela que nos dá alguma coisa, no sentido de SER a despeito do TER, deve ser sempre cultivada e regada ( ainda que à custa de muito vinho e vodca, rsrsrs).
Velho, fique com a energia suprema e reparadora do cosmos, a que dão o nome de Deus.
De um novo baiano sob a garoa fria de Sampa.
São Paulo 20 de Agosto de 2011, dia frio e chuvoso.

* Carta integral enviada em meados de 20011, para meu grande brother Carlos Alan ( Alanzório).
Saulo Oliveira