terça-feira, 18 de outubro de 2011

O novo como extensão do velho

De importância muito maior será a etapa quando a forma nova tenha atingido proporções que lhe permitam imprimir sua marca no todo da sociedade e exercer uma influência principal na  modelagem da tendência de desenvolvimento. Também é verdade que o processo de modificação histórica, em sua maior parte, é gradual e contínuo.

( Maurice Dobb)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Obra de arte de Rodrigo Bettencourt, interpretada maravilhosamente por thaís Gulin.





Tão homem tão bruto tão coca-cola nego tão rock n'roll
Tão bomba atômica tão amedrontado tão burro tão desesperado
Tão jeans tão centro tão cabeceira tão Deus
Tão raiva tão guerra tanto comando e adeus
Tão indústria tão nosso tão falso tão Papai Noel
Tão Oscar tão triste tão chato tão homem Nobel
Tão hot dog tão câncer social tão narciso
Tão quadrado tão fundamental
Tão bom tão lindo tão livre tão Nova York
Tão grana tão macho tão western tão Ibope
Racistas paternalistas acionistas
Prefiro os nossos sambistas
A ponte de safena Hollywood e o sucesso
O cinema a Casa Branca a frigideira e o sucesso
A Barra da Tijuca Hollywood e o sucesso
Prefiro os nossos sambistas
Prefiro o poeta pálido anti-homem que ri e que chora
Que lê Rimbaud, Verlaine, que é frágil e que te adora
Que entende o triunfo da poesia sobre o futebol
Mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol
Prefere ao invés de Slayer ouvir Caetano ouvir Mano Chao
Não que Slayer não seja legal e visceral
A expressão do desespero do macho americano é normal
Esse medo da face fêmea dita por Cristo é natural
É preciso mais que um soco pra se fazer um som um homem um filme
É preciso seu amor seu feminino seu suíngue
Pra ser bom de cama é preciso muito mais do que um pau grande
É preciso ser macho ser fêmea ser elegante
Prefiro os nossos sambistas




 


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DOIS querem ser UM

Foto: Saulo Oliveira


Começou numa simples garrafa de cachaça; é, pode acreditar! Numa garrafa pet, daquelas de cor verde desbotado; artefato típico de boteco.
Foi da vontade retada e sedenta de um gole, que o rapaz viu, pasmou e admirou através do verde, velho e desbotado da garrafa, uns olhos novos, vivos e inquiridores; uma boca apaixonante e pronta para o encontro calmo e desesperado de outra boca; uma aura resplandecente e serena.
Tudo aconteceu ali, num cantinho só deles, num cantinho d’um anfiteatro moderno em desuso, numa Universidade obsoleta e esquecida, duma pequena, encantadora e perdida cidade no sertão.
Quem visse à primeira vista diria até que ao invés de dois eram um só, entrelaçados em desejo e intenção. Mas a moça tinha suas razões e o moço as suas.
O que falar das muitas estrelas contadas em uníssono sobre o desconforto aconchegante do cimento ainda úmido do pátio?
O que fazer das muitas músicas cantadas e engolidas sob os galhos de uma mangueira generosa? dos muitos Paulos, Chicos e Herberts evocados...?
O que pensar dos muitos lugares roubados, tomados e imortalizados irresponsavelmente como deles? Das poesias lidas, improvisadas e compartilhadas...?
Os dois viviam assim pela cidade. Dois românticos exploradores de cantos e lugares, sem preocupações, sem planos, somente vontades imediatas, imediatamente saciadas.
Ela tinha beleza e era bela.
Ele, uma mistura de fugacidade e querer; querer ficar, querer estar, querer partir, querer voltar.
Ela tinha sapiência e trato no viver.
Ele era, pois, um paradoxo imperfeito, uma contradição assustadora, quando não um canalha por conveniência.
Compreendera logo seu amor pela noite, pelos bares, pelas esquinas de aflições madrugueiras; pelas causas perdidas. Descobriu seu gosto pela liberdade e a beleza de não ter raiz.
A verdade é que ela nunca fora entendida por ele. O moço nunca foi muito afeiçoado a explicações, fórmulas, cálculos, padrões e uniformidades. Ele gostava de sentir, e ele a sentiu, e ele a guardou e ele a eternizou.
Hoje o que sobrou dos dois está gravado na memória da pele e do universo, e poderá ser visto por qualquer um de alma leve, em fulgurações efêmeras no céu, toda vez que vai chover.

Saulo Oliveira