quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mocidade, amores, desvãos 2 (conclusão)


Ele sabe no fundo, que foi a menina quem o ensinou, que na vida, ama-se quantas vezes quiser; ama-se segundo a disposição dos corações. Não existe esse papo de um único amor ou de até a morte os separem, se suportando ou não, aos trancos e barrancos...
— Não tenho por que guardar rancor em ter sido rejeitado. — Assim pensa ele resignadamente. — No mundo não há nada que seja perfeito, ou que se encaixe com precisão. O propósito desta vida é a procura e não o encontro. Ou pelo menos o encontro, desde que seguido do desencontro, para mais na frente se reencontrar. — Assim supõe, desta vez, porém, notando seus sentidos um tanto confusos.

A história dos dois poderia ter sido diferente. Poderiam ter se casado, se transformado num casal mega ultra burocrático, destes, que contribuem pontualmente para o desenvolvimento da união e a ordem social, com seus impostos, filhos no colégio, supermercado, carro, casa, egoísmo, terapia, mesquinhez, cinema, pipoca...

Mas a vida não é simples e morta assim, pelo menos pra ele não. Desde muito pequeno entende que essas coisas não são do seu feitio. Procurou nos livros, ainda muito cedo, o que não achava no mundo real. Sempre custou- lhe pegar no sono à noite, por conta de sua imaginação. Só que o pequeno cresceu, e se transformou num Quixote, continuou a amar as letras, a poesia, mas sem nunca deixar de venerar as coisas deste mundo, e sofreu ao tentar conciliar às coisas que não são deste mundo. Nunca lhe foi agradável permanecer muito tempo num mesmo lugar.  A cultura, a língua, e os costumes alheios e longínquos, exerciam poder de quase hipnose sobre o jovem rapaz.

Segue agora resoluto, compreende que não há outra saída senão ir em frente. Ele é bom em seguir em frente. Avança com o coração destampado, cicatrizes expostas, sorriso aberto; e claro, pronto pra outra.

Saulo Oliveira

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mocidade, amores, desvãos...

Se você tivesse pedido para ele insistir, decerto não teria desistido.
Por que disse que não sentia nada pelo pobre rapaz, mesmo sentindo? Por que o deixou plantado na porta da rua cheio de dúvida e amor, ao invés de deixá-lo entrar?

— Juro que teria lutado, com toda a força. Contra o mundo, contra os muros, contra os contrários! Teria, sobretudo, esperado o teu momento. — Assim anuncia o moço, tetricamente pelos cantos.

Ele, com seu realismo exagerado, reconhece que a cada dia que se passa, a menina torna-se mulher, uma linda mulher; e percebe que agora se vai, e que talvez seja tarde. Repara que o tempo faz esquecer.

Sabe ainda que o tempo desbota as cores, deteriora as tonalidades, apaga as luzes e corta a potência.

Afinal, pondera: — o amor, e no amor, só tem sentido quando ambos querem, quando ambos dão sinais.

— Pois prova maior do gostar é deixar ir quando tudo clama pelo contrário!— Como diz o dobrador de sentimentos.

Saulo Oliveira