Ele sabe no fundo, que foi a menina quem o ensinou, que na vida, ama-se quantas vezes quiser; ama-se segundo a disposição dos corações. Não existe esse papo de um único amor ou de até a morte os separem, se suportando ou não, aos trancos e barrancos...
— Não tenho por que guardar rancor em ter sido rejeitado. — Assim pensa ele resignadamente. — No mundo não há nada que seja perfeito, ou que se encaixe com precisão. O propósito desta vida é a procura e não o encontro. Ou pelo menos o encontro, desde que seguido do desencontro, para mais na frente se reencontrar. — Assim supõe, desta vez, porém, notando seus sentidos um tanto confusos.
A história dos dois poderia ter sido diferente. Poderiam ter se casado, se transformado num casal mega ultra burocrático, destes, que contribuem pontualmente para o desenvolvimento da união e a ordem social, com seus impostos, filhos no colégio, supermercado, carro, casa, egoísmo, terapia, mesquinhez, cinema, pipoca...
Mas a vida não é simples e morta assim, pelo menos pra ele não. Desde muito pequeno entende que essas coisas não são do seu feitio. Procurou nos livros, ainda muito cedo, o que não achava no mundo real. Sempre custou- lhe pegar no sono à noite, por conta de sua imaginação. Só que o pequeno cresceu, e se transformou num Quixote, continuou a amar as letras, a poesia, mas sem nunca deixar de venerar as coisas deste mundo, e sofreu ao tentar conciliar às coisas que não são deste mundo. Nunca lhe foi agradável permanecer muito tempo num mesmo lugar. A cultura, a língua, e os costumes alheios e longínquos, exerciam poder de quase hipnose sobre o jovem rapaz.
Segue agora resoluto, compreende que não há outra saída senão ir em frente. Ele é bom em seguir em frente. Avança com o coração destampado, cicatrizes expostas, sorriso aberto; e claro, pronto pra outra.
Saulo Oliveira