Você não me entende mesmo.
Não vê que sou assim?
Não
sente a fúria do meu amor?
Não
percebe que não quero e nem aceito você pela metade?
Ah
mulher, se tu soubesses ler olhos...!
Se
tu soubesses ler movimentos, ainda que rápidos feito relâmpago, veria que não
minto e nem exagero.
Estava
ali, todo tempo a te observar, bebendo goles de tua beleza.
Só
você não me viu! Só você não se deu conta! Só você não me amou.
Sabe
que esses dias eu senti saudade da minha vida?
E
você, sabe o que significa saudade?
A
saudade que senti foi da vida que ainda não tive. Por um momento até pensei que
você, menina dos belos olhos, também sentisse. A cada trago de cachaça, um
litro de esperança. O fato é que a vida, este açoite de passagem breve, nos deu
a chance.
Viste
pelo menos aquele pássaro miúdo a nos rodear? O seu corpinho capenga, suas
penas eriçadas querendo sol, e o peito estufado, como que ensaiando uma canção
pra nós dois?
Enquanto
você não chega, vou vivendo assim, furtando ali, aqui, acolá.
A
vida nunca plena, mas jamais vazia.
Saulo Oliveira