Foto: Gleydson Publio |
A última
vez que ela o viu foi dobrando a esquina em disparada, quase correndo. Estava
magro, o cabelo enorme e usava botas de cano longo, camisa de algodão manga
longa contra o sol e mochilão nas costas. Ela ainda gritou, fez gestos
desesperados para que a visse, mas nada. O mochileiro desvairado não queria
outra coisa naquele momento senão caminhar. E caminhou, caminhou
desgraçadamente por muitos quilômetros. Não parava um segundo, nem pra
respirar. À medida que dava vazão a seu desejo tresloucado de caminhar, a
sensação era de que sua dor se esvaia junto à sola de seu calçado. E ainda de
que sua desilusão só caberia mesmo numa estrada como aquela, larga, sem
indicações, acostamentos ou qualquer que fosse a sinalização.
No
princípio da jornada, o viajante gostou de estar só, e se sentiu confortável à
condição de isolamento em que se via. Só que além do pensamento há coração; e
dentro do corpo há alma.
O rapaz
então mudou de planos, e ao invés de caminhar resolveu que melhor seria correr.
Correr até não restar mais nada. Somente correndo seria possível deixar aquelas
horas para trás. Somente correndo ele seria capaz de abandonar as promessas sem
pestanejar.
Do
portão, eu sei é que, ela ficou a acenar. Acenou o quanto pôde. E em
contrapartida ele resistiu, resistiu até o seu limite, pra não voltar atrás
rasgando a sua soberba besta e beijar de vez aquela boca sedenta, carnuda e
alucinada.
Saulo
Oliveira
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