Andei vazio por esses dias vazios!
Vazio de tudo. Seco; recolhido e amparado no Vazio de sorrisos, e de lágrimas,
e de toques. Não tava pra conversa.
Arredio, cogitei morar pendurado numa
árvore bem alta, por um tempo. Inalcançável! E que, as folhas das árvores
cheirassem a coisas antigas e velhas.
Mesmo vazio e incondicionalmente
solitário, seria feliz se pudesse ficar, ao menos, com uma lembrança. Uma
lembrança esgarçada, surrada, e incolor, mas que, o seu cheiro ainda
permanecesse inalterado, para quem sabe, tragar em excesso a poeira dos anos
passados e permanentes.
Descer por alguns instantes foi
uma tentação que perdurou todo o tempo de viagem. Não dei ouvidos às conversas
que abundavam nos cantos por que passei. Quis um motivo para reconsiderar, para
olhar uma segunda vez e não o encontrei.
Passeei despreocupadamente pelas ruas,
em finais de tarde . Ergui a cabeça em incontinência à ordem que impregnava os
cafés da cidade. Vi as esquinas abarrotadas de gente esperando a sua vez— pois
ninguém escolhe seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Chutei pedras pelo
caminho, e arrastei, propositadamente, a sola do sapato no chão,
arranhando-o.
Ignorei a conspiração e a sabotagem que
rolavam às minhas costas. Não colhi flores, mas arranquei a indecisão e a
soberba com minhas unhas de bicho. Sem hesitar!
Só no dia seguinte soube do tamanho da
mentira cretina, e o estrago que causou. O desfalque que comprometeu o achado,
e a compensação, logo depois, engordurada de dúvida.
No dia que choveu, andei entre o mundo,
desprotegido. Sem capa, sem guarda-chuva, sem agasalho, mas andei todo o tempo
sem dor. Aprumava no peito o destemor tão valioso, aprendido na labuta; o
desprezo à covardia, tão bem assimilado no olho de minha avó lascando lenha no
quintal, num dia que pra mim, era só mais um, de brincadeiras e
molecagens.
Ia apoiado na certeza de que tudo está
por um fio. De que tudo pode não acontecer, e isso não me apavorou. Aproveitei
para botar em prática o que temos de mais primário e maravilhoso: a necessidade
do urgente, do elementar. Engoli toda a água que vinha do céu e minhas
roupas ficaram ensopadas.
Como sempre acontece, quis ir ao
limite. Estava decidido a pisar descalço em espinhos que saiam majestosos pelo
chão. Queria romper a linha do ódio barato; do empenho patético em dar nome às
coisas.
Ansiava ver o sol depois da chuva, e atravessar o campo aspirando o cheiro novo da mudança, da madrugada; para então, subir numa árvore comprida, de troncos grossos e escorregadios, e de lá de cima absorver os aromas das coisas velhas, antigas, que preenchem o céu e ocupam os espaços, segundos antes, vazios.
Ansiava ver o sol depois da chuva, e atravessar o campo aspirando o cheiro novo da mudança, da madrugada; para então, subir numa árvore comprida, de troncos grossos e escorregadios, e de lá de cima absorver os aromas das coisas velhas, antigas, que preenchem o céu e ocupam os espaços, segundos antes, vazios.
Saulo Oliveira