quinta-feira, 21 de março de 2013

Atrás do Rastro...


Andei vazio por esses dias vazios! Vazio de tudo. Seco; recolhido e amparado no Vazio de sorrisos, e de lágrimas, e de toques. Não tava pra conversa. 
Arredio, cogitei morar pendurado numa árvore bem alta, por um tempo. Inalcançável! E que, as folhas das árvores cheirassem a coisas antigas e velhas. 
Mesmo vazio e incondicionalmente solitário, seria feliz se pudesse ficar, ao menos, com uma lembrança. Uma lembrança esgarçada, surrada, e incolor, mas que, o seu cheiro ainda permanecesse inalterado, para quem sabe, tragar em excesso a poeira dos anos passados e permanentes.  
Descer por alguns instantes  foi uma tentação que perdurou todo o tempo de viagem. Não dei ouvidos às conversas que abundavam nos cantos por que passei. Quis um motivo para reconsiderar, para olhar uma segunda vez e não o encontrei.
Passeei despreocupadamente pelas ruas, em finais de tarde . Ergui a cabeça em incontinência à ordem que impregnava os cafés da cidade. Vi as esquinas abarrotadas de gente esperando a sua vez— pois ninguém escolhe seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Chutei pedras pelo caminho, e arrastei, propositadamente, a sola do sapato no chão, arranhando-o. 
Ignorei a conspiração e a sabotagem que rolavam às minhas costas. Não colhi flores, mas arranquei a indecisão e a soberba com minhas unhas de bicho. Sem hesitar!
Só no dia seguinte soube do tamanho da mentira cretina, e o estrago que causou. O desfalque que comprometeu o achado, e a compensação, logo depois, engordurada de dúvida.
No dia que choveu, andei entre o mundo, desprotegido. Sem capa, sem guarda-chuva, sem agasalho, mas andei todo o tempo sem dor. Aprumava no peito o destemor tão valioso, aprendido na labuta; o desprezo à covardia, tão bem assimilado no olho de minha avó lascando lenha no quintal, num dia que pra mim, era só mais um, de brincadeiras e molecagens. 
Ia apoiado na certeza de que tudo está por um fio. De que tudo pode não acontecer, e isso não me apavorou. Aproveitei para botar em prática o que temos de mais primário e maravilhoso: a necessidade do urgente, do elementar. Engoli toda a água que vinha do céu e minhas roupas ficaram ensopadas.
Como sempre acontece, quis ir ao limite. Estava decidido a pisar descalço em espinhos que saiam majestosos pelo chão. Queria romper a linha do ódio barato; do empenho patético em dar nome às coisas.
Ansiava ver o sol depois da chuva, e atravessar o campo aspirando o cheiro novo da mudança, da madrugada; para então, subir numa árvore comprida, de troncos grossos e escorregadios, e de lá de cima absorver os aromas das coisas velhas, antigas, que preenchem o céu e ocupam os espaços, segundos antes, vazios.

Saulo Oliveira

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