Foto: Teo Neto |
Devo
dizer que, demorei uma cara para ler os sinais e me dar conta de que hoje já não
procuro mais certezas. Tampouco sou ingênuo a ponto de perseguir o absoluto. Ao
contrário, me contento com pedaços, ainda que pequenos e indivisíveis. Assim
consigo mais tarde compreender as coisas e as gentes, num processo peculiar e
tão fundamental de restauração e cautela em dar a cada parte o seu devido
espaço.
Numa
manhã, acordei sorrindo, um riso fino, de soslaio, de desconfiança e quase
reprovação. Aconteceu de forma espontânea, e seu caráter cômico foi ao imaginar
os momentos em que, inflados de soberba, pensamos alcançar o cume de uma
verdade; ou simplesmente quando achamos que sabemos, sendo que, o máximo que
atingimos foi um ponto de interpretação, que, se analisado com mais cuidado,
veremos se tratar de mais uma versão dentre as tantas no mundo, e que, as
verdades por sua vez, também são diversas.
O
lance da vida é viver, sem traçar metas, sem expectativas tolas. Deve-se no
máximo projetar uma semana à frente. Sim, isso mesmo! Por que teríamos a
presunção de ir além disso? O tempo vai depressa, e a tal verdade é que, não
somos senhores de nada, de ninguém, nem de nós mesmos.
Lembro-me
agora de ter corrido muito atrás de uma unidade em mim. De ter caçado alguma
inteireza que explicasse ou guiasse o meu proceder, a maneira de refletir sobre
o que estava em volta. O que encontrei foi frustração. Veja bem, fiquei
indignado ao saber da velocidade com que tudo muda. Inclusive eu. Fiquei
confuso ao saber da promiscuidade no percurso. E deveras chateado, ao constatar
as muitas caras e caretas com as quais o mundo me foi e me é apresentado.
É
preciso ter coragem para desvendar o mundo com suavidade. Destreza, para não
se perder no caminho. Para não tropeçar nos corpos imóveis esparramados pela
estrada. O que mais nos confunde os sentidos e desvirtua a incursão são as
bússolas e os mapas. Pois é preciso não saber amar, não saber se dar, não saber
distinguir o certo do errado, o bem do mal, para só assim prestar o devido
valor ao aprendizado, e preferir sempre uma boa e provocadora interrogação a um
ponto, que, em seu auge de arrogância, poderia se colocar, n’alguma altura da
linha, ponto final.
Saulo
Oliveira