terça-feira, 30 de outubro de 2012
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Esses olhos azuis...
E esses olhos azuis...? Azuis
como as águas que curam da tua cidade; e como as águas da tua cidade, teus
olhos também curam. Alguns instantes bastam, para aliviar a alma, conter as
angústias, e estancar o veio das desilusões.
Esse teu modo simples de proceder,
tão simples como a vida verdadeira deve ser vivida. Por um momento, pensei que
o mundo fosse bom.
E esses olhos azuis...? Um
azul que às vezes se confunde com o verde, e reflete a luz do sol em paz e
calmaria...
... um azul que, teimando em
ser verde, faz a gente se desesperar à procura do ângulo perfeito para a
fotografia na janela, num final de tarde...
...que, ainda relutando em
ser verde, faz a gente se enrolar com as palavras, numa incoerência
constrangedora, quando o mais certo, seria tocar as mãos e somente agradecer.
Porque, afinal de contas, mesmo sendo o melhor recurso contra o esquecimento, as palavras são as que menos importam, quando se tem diante de si, “olhos azuis" como os seus para olhar.
Saulo Oliveira
Saulo Oliveira
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Verbo Ausente
–Como saber se aquilo se
tratava mesmo de uma rua? Somente dois postes a encobrir o vazio de suas
calçadas e a nudez pobre de suas esquinas. Todo o resto era desprezo e
esquecimento.
O vento que assoprava vinha
das bandas da rodagem; era um vento morno, velho e cansado. – Um vento sem
vontade de chegar à cara da gente...!
Aproximou-se da casa que
supunha ser a que procurava, e ficou por um tempo, a observar o que parecia uma
tentativa frustrada de uma pequena horta; apenas alguns pesinhos de mastruz e
uma moita de erva-cidreira resistiam teimosamente sob a inclemência do sol.
Hesitou por algum instante, suficiente para um mergulho em suas lembranças não
muito recentes, e reviveu tudo que passara até chegar ali. Amargou ainda mais,
ao constatar no que o tempo o transformou, e de que talvez não devesse nunca
ter saído daquele canto, onde tudo já estava morto, sem que, no entanto, fosse
enterrado.
Quando finalmente deu por
si, uma lágrima despontava em seus olhos, e concluiu que era o que lhe restava
para traduzir o turbilhão que vinha em seu fundo. Um carro passou rompendo
aquele silêncio dramático, e o homem de dentro do veículo lhe acenou como
que o reconhecendo. Mesmo sem vontade,
ele retribuiu o gesto.
As suas roupas estavam
ensopadas, o calor fritava as dobras do seu pescoço e o sufocava. Viu-se sem
alternativa, – tinha de tomar uma decisão! Tomou para si um tanto daquele ar
quente, como que pegando fôlego, e finalmente bateu com os gomos dos dedos
suados contra a porta. Uma batida tímida, quase inaudível, que denunciava sua
vontade de os de dentro ignorarem-no. Insistindo nas batidas, e vendo que eram
inúteis, apelou para os gritos. Mas tudo continuava imóvel, mudo; cujo único ruído
que se ouvia, era o grunhido de sua própria respiração, ofegante e sofrida.
Pelejou a esperar, com o estômago
embolado pela ansiedade. Intrépido estancado frente à porta, – igual um “pé” de
mandacaru, ostentando toda a formosura e dureza de seus espinhos.
O contentamento era
crescente à medida que ia se convencendo de que
ninguém viria atendê-lo. Reparou que,
como o vento, estava velho e cansado, e que, não valia mais à pena tentar. Virou as costas sorrindo, – felicidade de
covarde, – acho. Caminhou com pressa, e já no portão, lançou no ar sentença: – não
havia mesmo nada a ser dito.
Saulo Oliveira
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